terça-feira, 28 de maio de 2013

Tratamento com células-tronco pode ter curado criança em estado vegetativo


Médicos alemães ainda são cautelosos em atribuir recuperação à terapia inédita, mas comemoram avanços na fala e cognição de menino que teve danos cerebrais após parada cardíaca em 2009


Depois de sofrer uma parada cardíaca e passar por procedimentos de reanimação por mais de 25 minutos em 2009, um menino, na época com dois anos e meio, entrou em estado vegetativo e suas chances de sobrevida não passavam de 6%.
Mas, apoiados pelos pais, que haviam congelado as células do cordão umbilical do garoto quando ele nasceu, médicos de Bochum (oeste da Alemanha) tentaram uma terapia inovadora. Nove semanas depois do incidente, a criança recebeu o material preservado com um transplante autógeno, ou seja, do próprio sangue umbilical, rico em células-tronco. A recuperação do garoto tem surpreendido a equipe que cuida do menino.
Se for verdade, este seria o primeiro relato de uma terapia com células-tronco bem-sucedida no tratamento de paralisia cerebral infantil, uma condição para a qual não existe cura atualmente
Arne Jensen e Eckard HamelmannProfessores da Universidade de Bochum
O caso foi descrito pelos médicos Arne Jensen e Eckard Hamelmann, professores da Universidade de Bochum, em um artigo publicado pelo jornal científico Case Reports in Transplantation.
Eles são cuidadosos em assegurar que as células-tronco foram responsáveis pela recuperação cerebral, mas garantem que são muito pequenas as chances de que apenas as terapias convencionais de reabilitação pudessem produzir tais efeitos. “Se for verdade, este seria o primeiro relato de uma terapia com células-tronco bem-sucedida no tratamento de paralisia cerebral infantil, uma condição para a qual não existe cura atualmente”, observam no artigo.
Para chegar a tal conclusão, os médicos se amparam em pesquisas anteriores feitas em laboratório. Em ratos, células-tronco aderiram em grande número a regiões lesionadas do cérebro e promoveram a recuperação de funções. Os cientistas acreditam que o mesmo teria ocorrido com o menino em Bochum e apresentaram imagens do cérebro da criança em que podem ser observadas mudanças físicas após o tratamento.
Recuperação
Mas as reações motoras e de retomada da consciência são os resultados que ilustram claramente a recuperação. No artigo, os médicos dizem não conhecer, na literatura de saúde, qualquer outro registro de recuperação infantil a partir de estágios tão severos de danos cerebrais como o que encontraram no menino. O paciente foi descrito como um caso “sem esperança”. 

Os médicos também escreveram que, a longo prazo, as chances de crianças na mesma situação são pequenas: cerca de 40% morrem e, no melhor dos prognósticos, apresentam sinais mínimos de consciência em um período de quatro anos a quatro anos e meio depois da ocorrência das lesões.
A situação em Bochum, no entanto, foi bem diferente. Apenas uma semana depois do tratamento, o pequeno paciente começou a reagir a sons. Passados cinco meses, já era capaz de bater palmas. Dois anos depois de receber as células-tronco, o menino passou a comer sozinho e a falar algumas palavras.  Agora, passados quase três anos e meio, o garoto fala frases com quatro palavras, anda com ajuda de aparelhos e apresenta sinais de desenvolvimento motor fino. O resultado inédito tem sido tratado pela imprensa especializada como o primeiro caso de cura de paralisia cerebral infantil.
Uma das particularidades constatadas pelos cientistas durante o tratamento foi a ação de reinício provocada pelas células-tronco. Durante a parada cardíaca foi como se o cérebro tivesse sido zerado e o tratamento permitiu um novo desenvolvimento.
Isso significa que, depois da aplicação, o menino passou a ter reações semelhantes a um recém-nascido e sua evolução motora e cognitiva apresentou, no geral, as mesmas fases do desenvolvimento de uma criança. Em algumas situações, como o aprendizado da fala, o processo foi mais rápido com o paciente do que o padrão verificado em crianças no mesmo estágio de aprendizado, sugerindo que alguns conhecimentos adquiridos antes do tratamento foram preservados. O menino levou dois anos após o tratamento para fazer as mesmas coisas que uma criança sem problemas faria aos dois anos de idade.
Dificuldade em obter as células
As células-tronco usadas no tratamento foram preservadas congeladas desde o nascimento do menino em uma clínica em Leipzig (leste da Alemanha). As possibilidades de tratamento de outros pacientes, no entanto, esbarram muitas vezes na falta de material com a marca genética pessoal.

Na primeira quinzena do mês, o cientista Shoukhrat Mitalipov, especialista em biologia reprodutiva da Universidade de Ciência e Saúde do Oregon, nos EUA, anunciou a criação de células-tronco a partir do transplante de material genético de uma célula da pele em um óvulo do qual o material genético foi removido.
A pesquisa foi recebida com alarde pela mídia, que a anunciou como a possibilidade de criação de células-tronco com células de indivíduos adultos. Apesar da euforia, as boas novas foram contestadas esta semana. Mitalipov admitiu erros na publicação dos resultados, justificando a pressa em concluir o artigo científico como causa de alguns deslizes.
No entanto, o cientista assegurou que as conclusões não se alteram. “Os resultados são reais, as linhas de células são reais”, rebateu. A pesquisa deve ser apresentada e discutida no próximo mês no encontro da Sociedade Internacional de Pesquisa em Células-Tronco.

Fonte: Terra


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