domingo, 14 de abril de 2013

Voltarelli foi responsável pelo primeiro transplante de células-tronco em Ribeirão


Disposto, Davi brinca, faz poses e tira foto com a mãe, em sua casa, em Sertãozinho (Foto: Joyce Cury / A Cidade)

Sertãozinho, meados de 2009. Ana Carolina Serra, 26 anos, já tinha perdido dois filhos – João Pedro morreu antes de completar cinco meses, e Kauan, no quarto mês. Causa das mortes: tuberculose pulmonar. Eles eram portadores de uma doença congênita conhecida como Deficiência Imunológica Continuada Grave, que transforma um simples resfriado numa doença letal.

Ana Carolina, então, soube que estava grávida. Depois de vencer o pânico, decidiu que iria lutar pela vida do terceiro filho. Procurou ajuda no lugar certo: Laboratório de Imunologia e Unidade de Transplante de Medula Óssea do Hospital das Clínicas, em Ribeirão Preto. E entregou aos cuidados do imunologista Júlio Voltarelli o destino do filho que iria nascer em breve e seria batizado Davi.

Davi veio ao mundo em 3 de novembro de 2009. Enquanto Voltarelli e sua equipe acionavam bancos do mundo inteiro em busca de célula-tronco de cordão umbilical compatível, Ana Carolina, por ordem do médico, largou o emprego de balconista e ficou isolada com o filho, num quarto da casa da mãe, também em Sertãozinho.

Davi não podia ter contato com o mundo externo. Ninguém deveria se aproximar dele. As condições de higiene deveriam ser rigorosas. Tudo bem esterelizado. Poeira, nem pensar.

Foram seis longos meses de isolamento até que chegou a primeira e alvissareira notícia: o cordão umbilical salvador tinha sido localizado em Saint Louis, capital da Louisiana, nos Estados Unidos.

Os milagres

Depois de alguns preparativos, no dia 15 de julho de 2010, realizou-se o procedimento. O sangue, retirado do cordão umbilical, foi injetado na corrente sanguínea de Davi, como se fosse uma transfusão.

Vinte dias depois, Júlio Voltarelli e parte da equipe composta de 30 profissionais reuniram a imprensa no HC para anunciar o primeiro transplante do gênero feito em Ribeirão Preto.

Modesto, Voltarelli explicou que o primeiro milagre estava em andamento. “É preciso que a célula-tronco produza um novo sistema de imunidade, capaz de defendê-lo, o que não acontecia até agora, já que qualquer coisa provocava infecções graves”, disse.

O segundo milagre viria com a produção de linfócitos, capazes de combater os vírus agressivos mais fortes. Os linfócitos seriam produzidos em meio à aplicação de imunossupressores, utilizados para evitar a rejeição.

O terceiro e último milagre se daria quando Davi ficasse livre das drogas imunossupressoras. Quando fossem suspensas, significaria que tinha ocorrido a tolerância imunológica, ou seja, o organismo do pequeno Davi reconheceria as células estranhas. Assim, o imunologista estipulou que, em pouco mais de um ano, com a sucessão de milagres e a ajuda da ciência, Davi teria vida normal.

Davi morou um mês e meio no Gatmo (Grupo de Apoio aos Transplantados de Medula Óssea), ao lado do HC. Depois, em casa, seguiu o tratamento. Nada de contatos com o exterior. Continuou isolado, longe de outras crianças, dos primos e das tias. Mas, como previra Voltarelli, ao cabo de um ano, já estava livre de todos os tipos de remédios. Atualmente, visita a unidade do TMO (Transplante de Medula Óssea) a cada dois meses, para detalhados exames sanguíneos. E o milagre perseverou.

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